tag:blogger.com,1999:blog-24623358587797652972024-03-13T11:45:04.921-07:00Tempo Sem Tampa"O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, e o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem."Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.comBlogger52125tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-40277797481482540472009-06-05T02:11:00.000-07:002009-06-05T02:17:09.791-07:00Sonhos... de Kadaré<div align="justify"><br />Há uns tempos entrei no “Palácio dos Sonhos”. A visita foi guiada por Ismail Kadaré e ficou-me para sempre na memória. É por isso que hoje, já à distância, ainda a recordo assim:</div><div align="justify"><br />Um hino à liberdade através do retrato de um regime opressor e intrometido no que de mais íntimo e livre possuímos, talvez porque não o controlamos: o sonho. </div><div align="justify"><br />A obra de Kadaré tem um primeiro impacto “estranho”, e desenrola-se através da estrutura rígida e misteriosa de um palácio invulgar onde acaba de entrar um novo trabalhador. Confesso que não me lembro do nome, a “visita” foi no verão passado, mas lembro-me que o novo funcionário partilha do nosso sentimento de ignorância ou desconhecimento em relação ao palácio. É aos poucos, à velocidade que o tempo, a experiência e a curiosidade lhe permitem, que também nós percebemos as funcionalidades de cada sala, descodificamos o ar cerrado dos colegas de trabalho, e que chegamos às “catacumbas” dos registos dos sonhos.</div><div align="justify"><br />O livro traz-me à memória um outro, “1984” de George Orwell, a observação transformada em espionagem, o controlo, a opressão. Mas aqui, no palácio, muito mais camuflados e muito mais no domínio do inconsciente. </div><div align="justify"><br />Se até os nossos sonhos fossem controlados, o mundo perderia a lógica e o sentido, e viveríamos no meio de um devaneio obtuso, incapacitante e capaz de nos tirar o sono. Os sonhos representam, talvez, a expressão máxima do que ainda conservamos de puro, já que fogem à nossa racionalidade e, mesmo assim, são condicionados pelas experiências que nos marcam enquanto estamos acordados.</div><div align="justify"><br />Estou tentada a revisitar o palácio, e deixem-me dizer-vos que vale muito a pena entrarem neste estranho mundo de Kadaré e na reflexão que proporciona.</div><div align="justify"><br /><strong>Nota sobre o autor:</strong></div><div align="justify"><strong><br /></strong>Kadaré é um escritor libanês, nascido a 28 de Janeiro de 1936, que presenciou a devastação da Albânia pelas tropas que se enfrentaram durante a Segunda Guerra Mundial. “O Palácio dos Sonhos”, publicado em 1992, é uma das suas obras mais inconformista e anti-totalitária. </div>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-89308954872393832152009-06-04T00:49:00.000-07:002009-06-04T00:54:54.682-07:00"Simulation age" - Simulamos ou não?<div align="justify">Numa época cada vez mais vivida e experienciada no e através do ciberespaço, Paulo Frias*1 diz que “o indivíduo plural, ambíguo e ubíquo ocupa, em cada momento da sua vivência online, um espaço mentalmente elaborado e concordante com a(s) identidade(s) assumida(s).” </div><div align="justify"></div><div align="justify">Somos, então, confrontados com o “conceito” ou ideia de múltiplas identidades e consequentemente com aquilo que Turkle designa de “life on the screen” (Turkle 1995). Para a autora, a possibilidade de nos dividirmos e agirmos em campos distintos com personalidades distintas foi potenciada pelos computadores e, mais especificamente, pela Internet (ciberespaço, cibercultura). Turkle refere-se a “windows”: "the development of windows for computer interfaces was a technical innovation motivated by the desire to get people working more efficiently by cycling through different applications. But in the daily practice of many computer users, windows have become a powerful metaphor for thinking about the self as a multiple, distributed system." (Turkle 1995:19)</div><div align="justify"><br />Será que vivemos numa era de simulação, em que cada uma das “ferramentas” disponíveis online e que nos transporta para novas “janelas” não é mais do que um simulador? Como afirma Frias, “a emergência de uma nova cultura contemporânea de simulação revela-se na tentativa de transcender os limites da existência criando simulações que parecem reais, e tornando a realidade cada vez mais parecida com uma simulação.”</div><div align="justify"><br />Ou seremos, nós próprios, navegadores do ciberespaço, os simuladores? Talvez a “janela virtual” seja apenas mais um campo de simulação, ou uma forma de “colocar em acção” outras linhas da nossa personalidade. A verdade, é que mesmo no mundo dito “real”, o Ser Humano tende a adaptar-se às exigências do meio e a moldar a personalidade às circunstâncias em que vive em determinado momento. Somos, portanto, plurais e não unitários. Paulo Frias considera, ainda, que “a fruição de espaços multifacetados e recicláveis em cada instante, potenciam a formação de identidades plurais,compreensivas, que aceitam as diferenças e a diversidade. Mas, acima de tudo, que pretendem gozar a faculdade de serem aquilo que querem e que eventualmente não podem ser no "mundo real". Esse mesmo mundo que, progressivamente, se transforma em apenas mais uma instância de simulação.”</div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div align="justify">Assim, como diz Turkle, todos os nossos “eus” merecem ser explorados. Hoje, esta “estética da simulação” está impreterivelmente infiltrada no “dia-a-dia” de todos aqueles que se movem no espaço virtual. Porque da gestão do dia faz parte a gestão dos movimentos de cada um no “ciberespaço”, e a própria acção dos indivíduos na janela do “mundo real” está intrinsecamente ligada à sua acção no “mundo virtual”. Talvez a tendência seja a de não separar os “dois mundos”, já que os “utilizadores” são os mesmos. E muitas vezes, aquilo que alguém constrói e difunde no ciberespaço, seja através de blogues, sites, chats, ou outros, tem como objectivo alcançar as consciências do “mundo real”, daí a constante passagem de conteúdos de um meio para o outro; e despoletar reacções que gerem satisfação pessoal a quem constrói e contribuam para a evolução de mentes cada vez mais multifacetadas, espelho de um “eu” com múltiplas personalidades.<br /><br />*1 – Frias, P., “Simulação & Simuladores uma nova estética online”, in <a href="http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/6_paulo_frias_prisma.pdf" goog_docs_charindex="3441">http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/6_paulo_frias_prisma.pdf</a>, consulta em 7 de Dezembro de 2008.</div>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-76835242941739040262009-05-07T11:47:00.000-07:002009-05-07T11:49:51.380-07:00Vós, mães...<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CTNIAAF%7E1.T-6%5CLOCALS%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Table Normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">Hoje, que o dia parece querer concentrar-se em nós</p> <p class="MsoNormal">Que nos perdemos entre os ponteiros do relógio</p> <p class="MsoNormal">Por querer o regresso do passado e imaginar tanto o futuro...</p> <p class="MsoNormal">Hoje, não podemos esquecer-nos de vós...</p><p class="MsoNormal">
<br /></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Vós, mães, que nos trazeis sempre no colo</p> <p class="MsoNormal">Vós donas do melhor abraço do mundo...</p> <p class="MsoNormal">Vós, suaves como algodão doce em noites de festa na primavera...</p><p class="MsoNormal">
<br /></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Hoje, que o sol nos acordou cheios de sonhos e vontades</p> <p class="MsoNormal">Que nos olhamos devagar para prolongar o nosso tempo</p> <p class="MsoNormal">Que queremos alcançar o infinito...</p> <p class="MsoNormal">Hoje, não podemos esquecer-nos de vós..</p><p class="MsoNormal">
<br /></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Vós, mães, sem as quais perderíamos o sorriso</p> <p class="MsoNormal">Vós, donas do único olhar que nos alimenta</p> <p class="MsoNormal">Vós, que nos guardais para sempre...</p><p class="MsoNormal">
<br /></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">É para vós, mães, o nosso dia...</p> <p class="MsoNormal">O nosso passado e o nosso futuro</p> <p class="MsoNormal">Os nossos sonhos e vontades</p> <p class="MsoNormal">O nosso tempo e o infinito...</p><p class="MsoNormal">
<br /></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">É para vós, mães, o nosso olhar de meninos</p> <p class="MsoNormal">Enquanto nos embalam e adormecem...</p><p class="MsoNormal">
<br /></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Hoje, que queremos ser e conseguir tudo</p> <p class="MsoNormal">Não podemos esquecer-nos de vós...</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal">
<br /><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal"><o:p> Cristiana Afonso
<br /></o:p></p> Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-29899221853637344742009-03-23T23:04:00.000-07:002009-03-23T23:09:18.416-07:00Provérbio ChinêsEm tempos em que caminhava sobre o palco do meu teatro, a minha encenadora fez-me chegar isto:<br /><br />"Assim como o rio se encaminha para o mar, o Homem sábio encaminha-se para o bom senso."<br /><br />O provérbio é chinês e diz tudo.Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-60459030417157954762009-03-19T16:25:00.000-07:002009-03-19T16:52:02.593-07:00(meu) Senhor do Anel<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CTNIAAF%7E1.T-6%5CLOCALS%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Table Normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Saí de casa. Soube bem levar com o calor dourado do Sol e sentir-me quente. Desta vez não reparei na paisagem à minha volta. O olhar quis guardar-se para o anel do fim de tarde...</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Praça dos leões a cirandar de capas negras, embalada pelo eléctrico, cinzenta <span style=""> </span>e matizada por mim e pelo Pedro na nossa mesa e na nossa conversa. Por nós e por mais umas quantas pessoas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Passados alguns instantes, longos talvez, não sei porque me perdi nas horas com a conversa, veio um rapaz: sujo, roto e descosido, despenteado, de olhos pedintes e andar inferior, de voz turva...E foi então, sem indiferença à mão estendida, que lhe dei a moeda...dele. Ele ofereceu-me o anel. Foram os meus olhos que ficaram pedintes de mais gestos como aquele, fui eu que fiquei inferior, tal como o resto da gente, perante o anel torto, velho, largo, gasto, mas dele...que me estendeu a mão e a voz de súplica e que, no meio do seu nada, me deu muito mais do que eu a ele.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Guardei-o na bolsa interior da minha carteira...olhar para ele permitiu-me recordar com mais força o momento...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No outro dia ofereci-o, junto com a história que o fez chegar a mim, a uma amiga a quem precisei de aumentar o sorriso...E o anel ganhou novos sentidos, continua torto, velho, largo e gasto, mas guarda nele mais carinho e mais saudade do mendigo que o alojou no dedo...</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Onde quer que estejas, meu senhor do anel, obrigada. Porque do teu andar inferior foste capaz de me fazer acreditar...em ti, em mim e no anel que representa o laço superior que há entre nós no meio do mundo...</p> Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-49909145169055883212009-03-04T04:07:00.000-08:002009-03-04T13:43:48.232-08:00...<div style="text-align: justify;">Depois da desilusão do que ela lhe disse, percebeu, de uma forma que não desejava, que a fina capacidade de magoar os outros cresce na mesma medida que a incapacidade de assumir o erro, pedir desculpa e perdoar. E doeu quando se descobriu demasiado infantil para responder ao ataque, deixando antes que a atingisse e lhe baixasse o olhar.<br /><br />É isto que a vida nos ensina?<br /><br />Se crescer implica o desenvolvimento de uma segunda cara e aprender a não confiar, se implica saber atacar para ficar patamares acima do outro, então crescer é injusto. Tão injusto como o são todos aqueles que aceitam crescer assim.<br /></div>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-23102623562763439052009-01-14T05:53:00.001-08:002009-01-14T05:55:20.281-08:00Horizonte...O sonho é ver as formas invisíveis<br />Da distância imprecisa, e, com sensíveis<br />Movimentos da esp'rança e da vontade,<br />Buscar na linha fria do horizonte<br />A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte...<br />Os beijos merecidos da Verdade.<br /><br /> Fernando PessoaCristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-1685438150751863722009-01-10T12:59:00.000-08:002009-01-10T13:03:25.251-08:00Yellow...<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/b1H2kUMC6_I&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/b1H2kUMC6_I&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-23484948213565284432009-01-10T12:28:00.000-08:002009-01-10T12:54:02.506-08:00Pegou-me na mão e fez-me girar como uma bailarinaOs braços dele envolvem o corpo dela no meio de flores e folhas azuis de um cenário idílico. O azulejo do balcão do café pinta-se enquanto o chocolate quente lhe dança na boca.<br />A porta abre-se para a muralha, e fecha-se para a luz quente espelhada no chão e nas mesas de madeira, entre o cheiro de um café e de um whisky. E nos olhos da Clara e do Miguel estão as luzes e os reflexos da árvore de natal enorme e salpicada de enfeites, que protege as figuras do presépio.<br /><br />- Miguel, já viste as prateleiras atrás do balcão? Estão cheias de garrafas que deixam cruzar os líquidos dourados...<br /><br />- Oh Clara, continuas a mesma menina observadora, perdida entre o que vês e o que imaginas. Olha para mim, estás linda hoje...<br /><br />Encostou-se para trás enquanto lhe sorvia o toque, deixou que ele a contemplasse linda, corou e quis voltar a reparar.<br /><br />- Adoro quando me trazes aqui, e hoje gostei de ficar no andar de baixo, nunca tinha respirado esta parte do bar. Em cima é mais casinha de bonecas, com aqueles sofás de castelos de princesas e as cortinas nos cantinhos da janela. Não achas? Oh vá lá, sabes que sou incapaz de parar de olhar, sabes que gosto...Tens que me deixar inebriar-me e concentrar-me no espaço nos primeiros minutos, tens de me deixar sentir que faço parte dele...<br /><br />- Sim...já sei minha Clarinha...A tua sorte é que nesses instantes posso sentir o teu brilho de olhos...Já podes voltar para mim?<br /><br />- Só se te puder partilhar com este chocolate...<br /><br />Interrompeu o jazz ao arrastar o banco, mas ficou mais perto dela e das nuvens. Já não se viam há muito tempo. Mas a Clara estava na mesma, linda, inteligente, perspicaz, sonhadora, encantada e encantadora.<br /><br />- Não olhes assim para mim Miguel...Olha, tenho tanta coisa para te contar. Nem imaginas o que me aconteceu no outro dia...Posso contar?<br /><br />- Pedes-me se podes contar com essa carinha de menina de quatro anos ansiosa com as novidades, é impossível dizer-te que não...Conta...<br /><br />- Oh...Também não é bem assim...Pronto, vou contar...não resisto. Foi num domingo no Porto. Fui passear com a minha irmã para St.Catarina, estava cheia de músicos, de palhaços a moldar balões, de vendedores de castanhas, e havia um homem estátua...<br /><br />O Homem vestia-se todo de branco e tinha uma máscara. Em cima de uma caixa, à altura de sonhos de crianças, observava imóvel o movimento envolvente da rua, enquanto esperava que caíssem moedas. Não resisti, já o tinha visto num outro dia, procurei a menina no olho por detrás da máscara e deixei cair a minha moeda. E a rua cheia ficou vazia. Ficou o homem estátua e a menina escondida nos olhos dele. Pegou-me na mão e fez-me girar como uma bailarina, sorriu atrás da máscara, fez-me uma festa e voltou a imobilizar-se enquanto eu recuperava o fôlego. E a rua encheu-se de novo de olhos pregados naquele momento.<br /><br />- Foi mesmo bonito Miguel...Senti-me tão pequenina e soube-me tão bem...Queres provar o meu chocolate?Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-68294703605693168892008-12-05T06:13:00.000-08:002008-12-06T11:57:23.929-08:00“Chamo-me António Silva, não sou actor de cinema. Sou o engraxador da Praça da República!”<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyu-NLYmMJ_dM0wjbv0LNuIh98YkWxXgncFbtR4kXV42gWjRuyFyeznJSj_D8eOGjQSStxYYp-JpxcWggVtpTc4qh7K2D4IOnYm_UoAtoA5CAF_-IxGxRgsQLVFv5Ub5LEHKiAJ8XGY3Y/s1600-h/mercado+espinho+035.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyu-NLYmMJ_dM0wjbv0LNuIh98YkWxXgncFbtR4kXV42gWjRuyFyeznJSj_D8eOGjQSStxYYp-JpxcWggVtpTc4qh7K2D4IOnYm_UoAtoA5CAF_-IxGxRgsQLVFv5Ub5LEHKiAJ8XGY3Y/s200/mercado+espinho+035.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5276310835470496450" border="0" /></a>
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ao povo que passa mete muita graça este meu apregoar</i>.”
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Ao pé dele, apoiado na bengala de madeira castanha escura, o companheiro de tardes e de conversas nos intervalos entre um e outro cliente. “<i style="">Vai uma engraxadela</i>?”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><span style=""> </span>A caixa que guarda os materiais revela os 66 anos de uso. O engraxador tem 80 anos, as mãos pintam-se com o preto da graxa desde os 14. São 18horas e é tempo de balanço.<i style=""> “Ganhei o gosto a esta profissão, que dizer, foi o que a vida me permitiu. Não gosto muito, mas tenho de gostar. Até porque a minha reforma é bastante baixa e isto ajuda-me a viver.”</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><i style=""><o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >António Silva faz parte da história da praça, fez-se nela moço e velho e é com ela e nela que se recorda de si. A vida exigiu-lhe uma profissão pela qual nunca foi apaixonado, mas é com orgulho que diz ter sido o <i style="">“1º engraxador da sua falecida mãe”.</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" > <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Longe vão os dias em que lhe pagavam 5 tostões por engraxar uns sapatos. Agora, por 1 euro, um homem de gravata azul-escura pousa o pé no apoio da caixa e lê o jornal enquanto o “não actor”, mas artista, lhe “puxa o lustre” ao sapato. Conversam pouco.
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><i style=""><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >“Hoje 5 tostões não dão para nada, nem para um rebuçado. Engraxei milhares de sapatos a cinco tostões, depois foi subindo para 8, 10, 12, 15 e por aí fora. Ganho sempre para mandar tocar um cego.”<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >O engraxador de sapatos, que também faz <i style="">“consertos, ponho meias solas, bicos...tudo!”</i>, é, ainda, o homem dos sete ofícios:<i style=""> “</i> <i style="">Tive diversos empregos, desde sapateiro, em que ganhava 7 tostões, até trabalhar numa casa de molduras a ganhar 5 escudos, depois numa fábrica de fechaduras e muitos mais.”</i> <span style=""> </span>Engraxar sapatos nunca foi suficiente para sobreviver... Sempre foi essencial para viver: “<i style="">Se não viesse para aqui já tinha morrido. Isto ajuda-me a passar o tempo.”</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" > <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0000_s1027" type="#_x0000_t75" style="'position:absolute;" wrapcoords="-64 0 -64 21515 21600 21515 21600 0 -64 0"> <v:imagedata src="file:///C:\DOCUME~1\TNIAAF~1.T-6\LOCALS~1\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image003.jpg" title="mercado espinho 038"> <w:wrap type="tight"> </v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Ao som do vai e vem da escova “faz contas à vida”, viaja entre sonhos e pensamentos, observa e absorve a evolução do mundo através da praça. Já por lá passou um sem fim de sapatos, à razão de dois por pessoa, a caixa do engraxador guarda a recordação de cada um deles. Mas guarda também os dias em que a entrada do quartel se enchia de gente para almoçar. <i style="">“ A recordação que tenho é que a miséria era tanta que vínhamos aqui à Praça da República buscar rancho para comer. Estava cá a infantaria 6, vínhamos aos 40 rapazes e raparigas.”</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Os olhos azuis de António Silva inundaram-se de lágrimas e o tempo concentrou-se nele, assim como as imagens daquela mesma praça animada de outras cores e de outras gentes. Permaneceu em silêncio. Voltou o olhar para os sapatos arranjados e pousados na sebe do jardim. Contemplou-se no seu trabalho e regressou. <i style="">“Hoje vivo melhor do que antigamente, antes quero o mal de agora do que o bem de antigamente.”
<br /></i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><i style=""><o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Hoje, abriga-o um casaco de ganga gasto sobre uma camisa e duas camisolas desbotadas, e aguarda-o uma pequena casa vazia e solitária ali perto. No sorriso sereno e contido revela o que lhe resta de felicidade. <i style="">“Olhe eu sou feliz, mas podia ser muito mais. A minha tristeza chegou há 17 anos quando morreu a minha esposa.”<o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Martelou com as mãos firmes e experientes, ser engraxador exige destreza manual. Mas com o avançar dos anos dissipou-se a destreza das principais artérias da cidade. E o Porto, cidade de pequenos apontamentos históricos e tradicionais, perdeu graxa e algum brilho. Desapareceu o engraxador da Cordoaria, do Marquês, da Boavista<i style="">.</i> Ainda há um nos Aliados.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><i style=""> <o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><i style=""><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >“Aqui neste diâmetro, desde a praça da liberdade até à igreja da Lapa estávamos 14. Estão todos à minha espera, morreram todos. Eu sou o número um, o chefe deles.”<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Resta a obstinação de um capitão que se recusa a abandonar o seu navio ao tumulto das vagas, que endireita a boina orgulhosa frente à lente da câmara fotográfica.
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Não é fácil ser o chefe, porque não é fácil resistir à mudança. Mas as mãos são as mesmas e o homem está só mais velho. <i style="">“A minha política é trabalhar, comer e beber.”</i> <i style=""><o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Não é avesso à modernidade, gostava, antes, de ser incluído nela. Em 2007, a Lusa noticiou um projecto de revitalização da profissão: “ler ou navegar na internet enquanto os sapatos são engraxados”. Lançada nas Caldas da Rainha, no “Primeiro Encontro Nacional de Engraxadores, para não deixar morrer uma profissão em vias de extinção”, que o “nosso” engraxador nem sabia que existia. A iniciativa pretendia criar um quiosque interactivo de engraxadores do século XXI onde se poderia localizar um posto para as pessoas deixarem e levarem literatura, obterem informação turística, poderem ler a imprensa ou consultar a internet enquanto engraxavam os sapatos.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" > <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >António Silva gostava de um quiosque assim e gostava que a “rapaziada nova” não teimasse em usar sapatilhas, as mesmas que usa o seu companheiro de tardes, amigo, de óculos grandes, camisola azul lavada, ar atento e informado, de jornal em punho e ouvido nas respostas do engraxador, que lhe retribui a atenção enquanto ajeita um sapato preto.
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Não se lembra de algum dia ter engraxado os sapatos a uma figura importante, <i style="">“engraxava a qualquer um, alguns nem pagavam. Apanhavam os sapatos engraxados e dinheiro? Punham-se a andar. E eu não ía correr atrás deles, para quê? Não tinham dinheiro, como é que iam pagar? Iam presos? Oh! Lá os deixava ir...”</i> Sorriu, ao mesmo tempo pegou num saco de plástico<span style=""> </span>e guardou um dos pares de sapatos secos na sebe.
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Depois, lembrou-se das pessoas mais abastadas e importantes que conheceu. Moraram naquela casa ardida, ao seu lado direito. <i style="">“Aquela casa era de um casal riquíssimo, os donos das “Águas Luso”. Morreram, ficou para o filho que a alugou. Agora ía abrir lá uma clínica, mas um dia de madrugada deitaram-lhe fogo e acabou tudo.” </i>Aos olhos do engraxador a casa renasce cheia de luz e movimento, de vida e de graça, aos nossos sucumbe sob o negro da fuligem, cinge-se a um aglomerado de paredes sujas e janelas “desenvidraçadas”, onde dormitam um ou dois toxicodependentes. Abandonados.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><i style=""><o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >A voz fraqueja-lhe de repente e António Silva pergunta-se: <i style="">“quem precisa de um engraxador?</i>” Já se anunciam aparelhos automáticos, que engraxam rápida e eficazmente. Antes, os grandes senhores gostavam de andar polidos e precisavam de alguém que não se importasse de sujar as mãos para lhes dar brilho e alento na caminhada. Antes, António tinha uma pequena fila de sapatos para engraxar. Agora, “<i style="">alguns têm vergonha de vir aqui, ao velho engraxador.”</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;">
<br /><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><i style=""><o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Mas ali, na Praça da República, sentado naquele pedaço de passeio ao Sol, não está somente o velho engraxador e a sua caixa mas também a luz dos olhos perspicazes e sábios de um contador de estórias. António Silva vê passar todos os tipos de pessoas, adivinha-lhes os jeitos e o que lhes vai na alma, descodifica-as à sua maneira, não as julga. Diz não perceber nada de política, não conhecer muitos escritores, actores ou músicos. <span style=""> </span><i style="">“Trabalhei sempre aqui na cidade do Porto, aliás sempre aqui na Praça da República, mas conheço o suficiente da vida e do mundo.” </i>E conhece.
<br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" >Escurece, a praça à noite não lhe pertence. Acomoda com vagar as ferramentas na caixa, enquanto se despede com o olhar. Caminha em direcção a casa. Fita os próprios pés, e os sapatos mal engraxados. Mas ele não é actor de cinema, é apenas o engraxador da Praça da República. <i style=""><o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><i style=""><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p> </o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><span style=""> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;font-family:";font-size:10;" ><o:p> </o:p></span></p> Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-21226348321234994222008-11-30T05:26:00.000-08:002008-11-30T05:30:02.657-08:00A menina<div style="text-align: justify; font-family: times new roman;"><span style="font-size:100%;"><br />A menina saiu de casa com o casaco vermelho e a mala castanha, percorreu os caminhos de sempre e não reparou em nada, deixou que a luz do dia se concentrasse apenas em si e no coração que levava apertado. O Porto tornou-se cinzento triste e as pessoas, que outrora o pintaram de muitas cores, apagaram-se com a água da chuva. Reparou em si e já não tinha o sorriso...</span><br /></div>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-70454831243771703372008-10-22T17:36:00.000-07:002008-10-23T11:57:54.795-07:00Nos olhos...as estrelas...<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CT%C3%82NIAA%7E1%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Table Normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sentada nos cartões que alguém reservou para os gatos, com as pernas tapadas até aos tornozelos, ela molhava-se...enquanto chovia. Pés de unhas negras, enormes; pés calejados, descalços, molhados. Chamou mais a minha atenção por ser aquela mulher e ter aquele olhar meigo e de loucura; por não pertencer ali mas ter o direito de pertencer ao mundo.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Obrigada menina. Só estou aqui a fazer horas, à espera que abra o albergue, que agora não me deixam ir para lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Ah....está bem...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- É é...às seis já abrem. São as cinco, agora, não é menina?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sim, são as 5h...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Obrigada.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">(avancei)</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E gritou-me...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Obrigada minha menina, obrigada.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tem cabelo branco, muito sujo e apertado. Tem um lenço preto tingido de manchas e tem aquela praça que se faz deserta, em frente à faculdade. No dia seguinte, quando lhe demos o pão e o leite, chorou. Mas já não chovia.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Onde dorme? Tem sítio para ficar?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Durmo numa casa ali em baixo. Já me abrem a porta. Não digam a ninguém meninas.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não quer camisolas vermelhas, azuis ou amarelas. Quer a cor mais próxima do luto que carrega.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Esta camisola vou levá-la amanhã à igreja, porque cheira bem.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E agarrou-se a ela com carinho. Foi como se o Sol abrisse por entre as nuvens agitado pela luz daquele sorriso, foi como se o mundo fosse de cores suaves e sensações quentes. Foi como se fosse perfeito...
<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Gosto dela, velhinha deambulante. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas não gosto de imaginá-la sozinha na praça, no lugar dos gatos...Pelo menos não chove e guardadas nos olhos fechados tem as estrelas...</p> Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-48289219317706831882008-10-12T15:52:00.000-07:002008-10-12T15:53:20.156-07:00O que há em mim é sobretudo cansaço<pre><br /><br />O que há em mim é sobretudo cansaço<br />Não disto nem daquilo,<br />Nem sequer de tudo ou de nada:<br />Cansaço assim mesmo, ele mesmo,<br />Cansaço.<br /><br />A subtileza das sensações inúteis,<br />As paixões violentas por coisa nenhuma,<br />Os amores intensos por o suposto alguém.<br />Essas coisas todas -<br />Essas e o que faz falta nelas eternamente -;<br />Tudo isso faz um cansaço,<br />Este cansaço,<br />Cansaço.<br /><br />Há sem dúvida quem ame o infinito,<br />Há sem dúvida quem deseje o impossível,<br />Há sem dúvida quem não queira nada -<br />Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:<br />Porque eu amo infinitamente o finito,<br />Porque eu desejo impossivelmente o possível,<br />Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,<br />Ou até se não puder ser...<br /><br />E o resultado?<br />Para eles a vida vivida ou sonhada,<br />Para eles o sonho sonhado ou vivido,<br />Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...<br />Para mim só um grande, um profundo,<br />E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,<br />Um supremíssimo cansaço.<br />Íssimo, íssimo. íssimo,<br />Cansaço...<br /><br /> Álvaro de Campos<br /><br /></pre>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-81571651483557897462008-10-08T05:12:00.000-07:002008-10-08T05:15:51.719-07:00Regina SpektorVale a pena descobrir...a voz e o piano.<br /><br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/p62rfWxs6a8&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/p62rfWxs6a8&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-63405531232832786092008-10-08T04:58:00.000-07:002008-10-08T16:08:17.020-07:00Parte I : Perdi-me no cinzento e reparei...<div style="text-align: justify;">De camisa de noite lilás, aquela sensual, de seda justa ao corpo...saiu até ao alpendre. Os pés descalços sentiram o frio da manhã, o resto sentiu o sol que nascia devagarinho e a segunda-feira soou a sábado tardio e preguiçoso. Sentiu-lhe o toque, suave como a camisa, quente como o sol...As tábuas do alpendre rangeram, naquele som indescritível de tábuas calcadas a dois...num só. Quando o sol é assim e o céu é azul, quando até se vêem borboletas brancas e girassóis amarelos encantados, o mundo parece perfeito...Mas ele foi-se e o tempo deixou-a perdida...<br /><br />Há muito que não se sentia assim, mas em frente da secretária de madeira escura viu-se obrigada a mudar de sentido. Cabelo apanhado, ar impenetrável e confiante, fato cinzento escuro de saia justa por baixo do joelho, passo firme em cima dos saltos finos de uns sapatos únicos, brilhantes; estão entre os seus preferidos na prateleira do meio do armário onde guarda mais de 100...Multipliquem-nos por muitos dias, muitas estórias, muitos andares. Haverá, portanto, uns sapatos nervosos, outros ansiosos, orgulhosos, entusiasmados, cansados, irrequietos e calmos, tristes e felizes. Não há sapatos no armário que lhe recordem aquela manhã, sentiu-a mais à flor da pele por isso, e à flor da pele tem hoje a vontade de descalçar novamente os sapatos. Mas tem a reunião do meio dia em jeito de almoço com o resto da equipa da empresa e tem uma nova manhã, de botas castanhas...<br /><br />Hum...nem imaginas o que vou fazer com o meu casaco azul escuro e apertado na cinta, cabelo apanhado e sexy, botas altas castanhas...São 10h30 da manhã, vou em direcção à foz. E isto agrada-me no começo do dia.<br /><br />Deixa-me, antes, aproveitar para te contar que parei num Banco para depositar cheques, nos aliados, e deu-me uma súbita vontade de percorrê-los pelo centro, a pé. Já olhaste os aliados de baixo? Já encheste os olhos, cá do fundo em direcção à Câmara? Já não os olhava assim há algum tempo. Perdi-me no cinzento e reparei. Sozinho num banco, um livro de capa branca e marcador prateado. Prendeu-me a ele e trouxe-o comigo. Mas depois conto-te o resto, já estou atrasada...<br /><br />Vou seduzi-lo, a estratégia é entrar na pastelaria, pedir um daqueles croissants gulosos e juntar-lhe aquele meu ar deliciado, que sei que seduz. E ele já está a olhar para mim mais derretido que a manteiga. Caminho escorregadio, para ele. Dentro de poucos segundos vou saber tudo o que quero. Os meus olhos castanhos de mel estão agarrados aos verdes dele. Falo descontraidamente enquanto ele tenta acompanhar o meu ritmo alucinante...foi o que ele disse que eu tinha. Acabei de dar uma daquelas gargalhadas...Ritmo alucinante? Gosto de acordar cedo e ter muita coisa para fazer, de me deitar tarde a pensar na agitação do dia seguinte, de correr de um lado para o outro, de ter meia hora para almoçar, de chegar em cima da hora mas a tempo...talvez ligeiramente alucinante...<br /><br />E já está. Acabou de me revelar tudo. Um beijo e um olhar de despedida, daqueles que se arrastam (nele) e deixam vontade de mais. A conquista faz-se devagar e é tanto mais forte quanto mais forte é a vontade do outro em ser conquistado. Ele tem pressa, eu tenho vagar. Funciona assim, porque eu quero.<br /><br />- Luísa, posso ligar-te mais tarde?<br />(Sorri...)<br /></div>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-82507675362886982572008-09-23T16:08:00.000-07:002008-09-26T15:11:27.183-07:00Sopro...<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CT%C3%82NIAA%7E1%5CDEFINI%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Table Normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O Porto volta a reconstruir-se nos meus olhos, e depois da ausência das férias volta a surpreender-me. Nunca um lugar me tratou assim, nunca um lugar me foi trazendo tanto com tão pouco, ou tão simples...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E depois de uma busca de livros na Biblioteca Almeida Garret, na companhia da Mafalda e da Ina, e do passeio com conversa agradável naquele jardim do Palácio de Cristal, veio ao nosso encontro a Sara, velhinha de cerca de 80 anos...julgo eu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">É como se o mundo soprasse na minha direcção devagarinho. Porque nem a entrada no rosa e amarelo queimado da Rota dos Chás, nem o chá ou a tarte de chocolate e framboesa me tinham soltado o sorriso, como já tantas vezes o haviam feito. Porque há, quase sempre, nesta atmosfera, na sonoridade que a preenche e no cheiro que emana algo que me inebria e absorve, que me atira o olhar para a paz do vazio enquanto ao mesmo tempo me desperta intensamente os sentidos. Quem já lá esteve é bem capaz de me compreender, pelo menos em parte. E lembro-me da primeira vez...daquela noite de teatro (em que vi "Aquário") no museu do carro eléctrico do Porto, da chuva que me fez correr e quase cair na rua, que detestei que me molhasse mas que adorei ver molhar quando me sentei e senti ali...cheia da estória das personagens, ainda envolvida pelo estalar das palmas e de repente naquele calor, na luz trépida das velas, no perfume doce do meu romântico “Dim sum chá”. Depois dessa noite decidi apresentar o espaço a todos os que achei merecerem partilhá-lo comigo, faltam alguns é certo...não falta a minha vontade de os ver saboreá-lo comigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mas naquele dia o coração tinha apertado tanto que reprimiu o que se faz, quase sempre, de mim ali...e foi preciso mais, foi preciso a Sara:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Somos nós que construímos a nossa felicidade meninas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E a Sara só queria saber se havia uma exposição nova (e gratuita) no Pavilhão Rosa Mota, uma daquelas que sabe bem porque nos obriga a reparar demasiado, com medo de <span style=""> </span>perder um pedaço de vida; uma daquelas que nos alimenta de beleza, arte, conhecimento; uma das que vale a pena, não por ser gratuita (embora isso ajude) mas porque nos movimenta. Queria tão pouco a Sara...e deu-nos tanto. Deu-me o Sol que brilhava nesse dia, deu-me as folhas secas e torradas de Outono a aquecerem a terra, deu-me o transparente da água do “lago”, os patos e o seu deslizar suave, os livros que requisitei e o desejo de perscrutá-los e de me embrenhar neles...e deu-me aquela minha vontade eterna de sonhar. Deu-me as mãos e o carinho e adivinhou o tanto que eu precisava deles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Se soubesse como ajudou a construir a minha felicidade...Pedi ao mundo que soprasse na direcção dela...devagarinho.</p> Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-31105971860880409392008-08-05T15:32:00.000-07:002008-08-05T15:38:01.582-07:00Soube bem ler...:)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.caixapreta.blog.br/wp-content/uploads/2007/03/florenca.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 200px;" src="http://www.caixapreta.blog.br/wp-content/uploads/2007/03/florenca.jpg" alt="" border="0" /></a><br /><br /><div style="text-align: center;">"A Dama Misteriosa de Florença",<br /><br />de Nora Roberts<br /></div>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-2061462490008423202008-08-05T15:07:00.000-07:002008-08-05T15:28:14.764-07:00À velocidade do metro...<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O metro passava devagar em cima da ponte D.Luís. 22h30. O Douro suave lá em baixo e o olhar sobre ele, encandeado pelas luzes. Às vezes faz-se um percurso cem mil vezes e não se percebe que do dia para a noite a paisagem que o desenha muda completamente. E a mudança traz consigo o pormenor, aquele que nos espanta, emociona ou desilude. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Do lado de Gaia havia luzes roxas rua fora, havia cavalos à roda com crianças felizes no girar do carrossel. Do lado do Porto, as mesas exteriores dos restaurantes da ribeira apaixonadas, a cada olhar uma nova descoberta. E numa daquelas casas uma família peculiar. Da janela viam a Serra do Pilar, enquanto isso entornavam vinho nos copos. Vai-se construindo a estória. Podemos imaginar...O homem, com cerca de 50 anos, mas algumas rugas já demasiado vincadas no rosto, tinha mãos grossas e ar de pescador, sorriso aberto e lento, olhos quietos e enormes. Pode ser António, ter três filhos, viver com a mãe porque é viúvo, ter um carro vermelho e gostar de passear ao Domingo. <span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E da noite para o dia, do vinho para a água; a visão muda e transparece como o rio. Enquanto o metro passa, os turistas caminham de máquinas fotográficas em punho. É bonito. Outros navegam por baixo da ponte sentados nas cadeiras dos barcos, naquelas que parecem abanar com a ondulação, já experimentaste? E estão felizes, daqui não se vêem os rostos, mas é isto que me parece. Depois as motos de água, rápidas, agitadas. Ai...apetece-me andar numa delas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style=""> </span>E volto a olhar, o metro avança. Naquela noite, que descrevi antes, despertei ao chegar à estação da trindade. A voz (“a próxima paragem, trindade, tem ligação com autocarros...The next top, trindade...”) da rapariga do metro que já todos, num momento ou outro, tentámos imaginar. Precisamos tantas vezes de associar imagens aos sons e gostamos de vaguear enquanto o tempo passa entre a estação de partida e a estação de chegada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style=""> </span>Uma vez, sentada na estação à espera de uma amiga, a Sofia, decidi reparar em tudo à minha volta. Estava calor lá fora, e cá dentro sentados no mesmo banco frio que eu, dois velhos...ao fresco. A conversa fazia-lhes passar a tarde mais depressa, talvez ali se estivesse melhor do que em casa. E vi um menino numa cadeira de rodas de fazer inveja a qualquer um dos miúdos que pode andar...porque era colorida e tinha desenhos fantásticos nas rodas, que andavam muito rápido enquanto o menino sorria.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E vi mais, muito mais...Mas nada que agora interesse muito contar, até porque entretanto a minha amiga chegou e o meu lugar no banco ficou vazio. </p>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-90846750130737605012008-06-18T04:54:00.000-07:002008-06-18T05:12:53.822-07:00Cancro<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Mãe...pai o que tem a mãe? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>(...)</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Não chores mãe...Pensei, mas não disse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Naquela manhã de terça-feira estava Sol. Tinha-me levantado por volta das 7h, tinha aulas às 8h30. E entre a ansiedade, a esperança e o esquecimento (possível), vivi mais uma manhã, aquela manhã que decidiu concentrar-se em mim e no interior quente do carro, à hora de almoço. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Desci as escadas, num arrepio desvairado por querer saber e não querer saber; abri a porta cinzenta escura, a queimar de sol e de medo. Perdi-me lá dentro, naquele silêncio pesado, nas lágrimas dela e no esforço que fiz para as conter. Ele, dono da coragem e da força do mundo, conduziu devagar até casa, com vontade de cortar caminhos, de arrastá-los até às horas felizes, que partiram...Não me lembro do resto desse dia, por mais voltas que dê, a memória quis apagá-lo...e eu deixei porque sou fraca, porque doeu o resto desse dia, embora eu não me lembre dele. Ficou a memória do sufoco, do coração apertado, das palavras que não disse e da vontade de não querer vê-la assim...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Quero lá saber da guerra que provocou a morte a 30 mil pessoas, quero lá saber da fome que passam outros tantos, quero lá saber que sofras porque o teu namorado te deixou, que chores porque estás triste porque perdeste não sei o quê...Quero lá saber de acidentes e mortes na estrada, ou de ti infeliz a dormir na rua. Sou egoísta! Porque vê-la assim dói mais que a dor deles todos juntos, porque o medo de perdê-la é insuportável, porque eu sou pequenina e preciso dela e de vê-la sorrir...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>A memória compõe-se em pedaços. É como um puzzle ou uma fotografia rasgada ao qual faltam peças ou à qual faltam partes. Guardei tanto de mau que me esqueci de guardar alguma coisa que houve de bom, tirando os abraços, mesmo assim inseguros. E ainda hoje sei que não fui a filha capaz de suportar a dor e de lhe dar o colo, o carinho, a força necessários. Quis tanto que ela fosse forte que fui eu a fraca. E na manhã seguinte, sem sol acho eu, correram-me as lágrimas que não caíram na almofada. Ali, naquela sala do último andar da escola, sentada ao lado da Ana. Controlei-me tanto, tentei concentrar-me no professor de matemática, nos números, nos exercícios, em vão. Desesperei na sala de convívio, incapaz de um sorriso no banco metálico do fundo. Perdida naquele barulho, que também guardei. Falou comigo.<br /><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">- Estás de trombas hoje...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>(...)</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Chorei.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Prometi não chorar mais assim, escondi a cara. Mas voltei a chorar tantas vezes no chão escondido entre a cama e a janela do meu quarto que decidi não fazer mais promessas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Seguraste-te bem mãe...tenho tanto orgulho em ti. E nunca mais vou esquecer o dia em que te vi na cama de hospital, com o sorriso mais bonito do mundo, a dizeres que eu estava linda com a minha camisola nova. Foste capaz mãe...e capaz de me dar força, quando precisavas tanto dela, de me dar alegria, quando no fundo a tinhas perdido, de apertar o nosso laço quente e amarelo como os girassóis na mesa de cabeceira. E eu senti-me pequenina mãe, e foi como se aquela febre que eu tive tivesse voltado e tu estivesses lá para me proteger. Foste capaz de tudo, mesmo nessa tua dor...foste capaz de me dar o sorriso e de me devolver os sonhos, como só tu sabes fazê-lo mãe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Um dia, e esta é a minha única promessa, a que me move tantos dias, a que me acorda quando tenho sono, a que me torna feliz quando estou triste, a que me arranca o medo, a que é minha porque é para ti. Um dia mãe, vou ser e conseguir tudo e ver-te sorrir porque concretizámos os nossos sonhos. Só e eternamente nossos.</p>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-54422146867908357672008-06-01T12:01:00.000-07:002008-06-01T13:36:43.658-07:00“ Velhinha de cabelos compridos...”<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Há dias em que apetece fazer tudo. Em que acordamos com a certeza de que vamos ser capazes, cheios de força, de vontade de vencer, de conseguir! Mas é nesses dias que a vontade se esvai à mesma velocidade com que apareceu. E mesmo depois de ter saído de casa e ser trespassado pelos primeiros raios de sol depois de dias de chuva, mesmo depois de ter partilhado sorrisos e comido batatas fritas com ketchup, de ter conversado com pessoas simples e simpáticas, cai-se na inércia...A inércia que transponho para este texto enquanto o escrevo e ao mesmo tempo penso no muito que tenho para fazer. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E de repente lembro-me do banco do lado esquerdo do autocarro e do velhinho que ia sentado à minha frente. “Sabia que vai envelhecer cedo menina?”</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Na verdade eu desconhecia e sorri para disfarçar um ar incrédulo...E ele disse-me que era verdade, que o cabelo demasiado comprido favorecia o envelhecimento precoce, e que, aliás, isso estava escrito e explicado num livro de um autor qualquer, vendido numa livraria do Porto. Não fixei os nomes...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O segredo dele para aos 80 anos continuar ágil, saudável e feliz eram duas gotas de água oxigenada por dia. Bebe-as há muito tempo e tem sangue de rapaz novo, disse-lhe o médico!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Fui sorrindo, surpresa, mas deliciada com a simplicidade, simpatia e loucura (a minha) do momento. Senti todos os olhares do autocarro voltados para mim e para o meu cabelo, para o velho e para a sabedoria estranha dos seus 80 anos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Saí do autocarro e decidi não cortar o cabelo. Gosto dele assim, e por agora quero deixá-lo comprido, até quando for velha...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">À media que escrevo ganho nova vontade, vou guardá-la dentro de uma esfera de âmbar...não quero perdê-la. Faz-me falta, tal como me faz falta a vontade do meu pai e da minha mãe quando me seguram no colo, me abraçam e me chamam “minha pequenina.” Faz-me falta... ouvir o meu mano chamar-me kika e implorar-me por mais um jogo de xadrez; faz-me falta o olhar quente da minha avó a oferecer-me o melhor pão com queijo e marmelada, faz-me falta o cheiro da minha casa e o sol da minha rua.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por mais velha de cabelos compridos que eu seja, vai-me sempre fazer falta...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Já agora, o velho de 80 anos sorriu para mim, criou um laço instantâneo comigo e eu senti-me feliz. São os meus pormenores, aqueles que guardo com carinho e que gosto de contar, porque é bom partilhar bocadinhos de felicidade.</p>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-3126735660643269112008-04-25T17:28:00.000-07:002008-04-25T17:29:35.194-07:00Por mim achada...<object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/uZQrHXvaWkI&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/uZQrHXvaWkI&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-9624761670032651642008-04-25T17:06:00.000-07:002008-04-26T04:49:26.424-07:00(H) À conversa no Camarim...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://otrogarrick.blogcindario.com/ficheros/ramo_flores_violetas.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px;" src="http://otrogarrick.blogcindario.com/ficheros/ramo_flores_violetas.jpg" alt="" border="0" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Saí para ir ver “Conversas de Camarim”. A peça de Simone de Oliveira e Vítor de Sousa, com Nuno Feist ao piano. Fui em trabalho, para a Jornalismo Porto Rádio, entrevistei os actores, o público e os organizadores. Mas a experiência foi muito mais do que isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Foi o olhar rasgado sobre o palco e a sua essência. Foi a música, os poemas ao sabor do Vítor, as canções na voz da Simone. A sala estava cheia, nas cadeiras sentia-se o burburinho inicial, a surpresa, os risos, os aplausos...A noite correu através da conversa que os dois actores partilharam connosco. Foi bom. Foi aquele respirar profundo que nos enche a alma. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Eu fiquei sentada na primeira fila, vantagem de ser jornalista, embrenhei-me no calor do palco, arrepiei-me, deixei o coração acelerar com a beleza dos momentos. Depois, desci ao camarim, vantagem de ser jornalista, e conversei com a Simone e com o Vítor. De gravador na mão fiz perguntas de jornalista com <span style=""> </span>emoção de admiradora...A Simone estava sentada em frente a um espelho inundado de luzes. Fumava e olhava-me através do verde dela...Fiquei nervosa, e depois do muito que tenho feito nem é habitual ficar nervosa assim, fico nervosa, mas passa-me com a rapidez com que passa a primeira pergunta...desta vez emocionei-me porque guardo a figura da Simone no imaginário, desde criança, porque me delicio a cada <span style="font-style: italic;">desfolhada</span>, porque admiro a força com que encarou o cancro, porque vejo nela uma Mulher. Sem preconceitos, com verdade, com crenças, com carisma. Valeu muito a pena entrevistá-la e ouvi-la contar a estória que até já contou noutras entrevistas. O senhor da loja do Porto ofereceu-lhe as violetas por ela ser a Simone, ela recorda-o e reaviva com ele a paixão pelo Porto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Hoje, também eu sou apaixonada por esta cidade de ritmos, de um cinzento colorido que me encanta. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Também eu recebo as minhas violetas quando passo...e sorrio à medida do tempo e das recordações. Sorrio a cada descoberta. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Um dia sei que vou ser jornalista, com o amor que já tenho ao facto de ir sê-lo. Por isso, guardo cada experiência que os trabalhos que já faço me proporcionam. Sou subjectiva, porque sou eu, procuro não a objectividade plena, mas a honestidade comigo e com os outros. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ser jornalista não é o sonho da verdade absoluta, é o sonho das estórias que fazem o mundo e as pessoas, com tudo o que essas estórias têm, até o falso, desde que não anunciado como verdadeiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">De regresso ao camarim...a peça foi publicada na JPR e é lá que vou recordar as conversas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>http://jpr.icicom.up.ptCristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-71031588917575807652008-01-30T18:23:00.000-08:002008-01-30T18:24:24.700-08:00"Cai bem..."<object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/zM5Hct1VrZY&rel=1"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/zM5Hct1VrZY&rel=1" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-70445554655617711022008-01-30T18:05:00.000-08:002008-01-31T16:47:51.794-08:00"Às vezes no silêncio da noite..."<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sabes quando a noite traz o silêncio? Mesmo quando os carros continuam a passar velozes lá fora, mesmo quando tens a televisão ligada num canal qualquer só para que o som te faça companhia, mesmo quando continuas a ouvir o fechar das gavetas dos armários do vizinho do andar de baixo, mesmo quando ainda sentes a música do vizinho do prédio da frente e o ladrar do cão do vizinho de cima. Enfim, quando, se pensares bem, a vida continua agitada em cada pedaço de casa e de rua, mas sentes que a noite trouxe o silêncio. E começas a ouvir o tic tac irritante do relógio que tens numa das prateleiras da estante da sala, e é exactamente esse tic tac que te dá a sensação de teres mergulhado no escuro, no vazio e no silêncio da noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nunca ouço este tic tac durante o dia e acho que é mesmo por isso que o ruído dele cai como a batida forte de uma porta, porque já não é dia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Depois de arrumar as almofadas do sofá, que no meu caso se pintam entre o azul e o verde, o laranja e o cor de rosa, apago a televisão, rodo o interruptor que me deixa às escuras e acendo a luz da casa de banho. Gosto de me lembrar que fiz <span style=""> </span>exactamente o mesmo na noite anterior, que com o tempo fiz de mim os meus gestos e os repito sem pensar, porque são definitivamente meus. Vou à casa de banho, retomando, visto o pijama quente de inverno, lavo os dentes e passo água na cara. Depois olho-me ao espelho, reconheço-me no espaço e no tempo de mais um dia, continuo a menina que gosto de ser e ainda tenho os meus 19 anos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Gosto de trancar a porta, de fazer barulho ao girar a chave, de me sentir segura quando prendo o cadeado e de no instante a seguir ir até à cozinha, abrir o armário e pegar num copo onde verto o leite do pacote que tirei do frigorífico. Depois ( e com este "depois" lembrei-me dos textos que escrevia quando era pequenita, que contavam estórias cheias de e depois...e a professora dizia..”morreram as vacas e ficaram os bois”) vou buscar as bolachas, chipmix, aquelas do pacote azul, com chocolate qb. Delicioso, reconfortante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Há tempo para pensar, para fervilhar em ideias, para me imaginar a sorrir quando concretizar os meus sonhos. Há tempo para me sentir feliz, para me sentir triste, sozinha e acompanhada. Há tempo para sentir saudades da cozinha da minha casa de sempre, em Bragança, da carpete colorida e das torradas do meu pai. E há tempo para pensar neles, e no carinho que me dão todos os dias, neles que me preenchem a alma e o coração. Há tempo para pensar em ti.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Segue-se o “ajeitar dos lençóis”, o virar consecutivo na cama até encontrar a posição ideal, quentinha, até respirar devagarinho. Gosto do caracol estampado na almofada da minha cama.</p>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2462335858779765297.post-74831294070790504132007-12-07T17:37:00.000-08:002007-12-08T11:13:49.628-08:00No Cabo do Mundo, ao sabor da pena de Laura Costa...(Parte III)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1_8QCV9q9cqPc1Rm75_h2mqumry3dxDE3_ylfnAcTfqH4EjOeH1qFxSvlFnUfJ-0qz4SmJZeQvB_yZg5DEViNgMRW73u4Rr1E4C0_575cXHJlLdjPc7nZUk9t2fJ1ey5pkwmesSRBUEc/s1600-h/livro.bmp"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 86px; height: 132px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1_8QCV9q9cqPc1Rm75_h2mqumry3dxDE3_ylfnAcTfqH4EjOeH1qFxSvlFnUfJ-0qz4SmJZeQvB_yZg5DEViNgMRW73u4Rr1E4C0_575cXHJlLdjPc7nZUk9t2fJ1ey5pkwmesSRBUEc/s200/livro.bmp" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5141604083661051538" border="0" /></a><br /><b style="">A Laura tem no seu livro várias descrições, os cheiros, as cores. É muito observadora? <o:p></o:p></b> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Sim, é interessante. Não é muito fácil, é preciso muita paixão pelo que se vê e pelo que se escreve para poder retratar e tentar que as outras pessoas percebam a que é que cheira, o que é que se sente, e tentar que isso saia fora do papel. Acho que é um dom, acho que não se aprende, é mesmo um dom da própria pessoa que escreve juntar no papel aquilo que sente, que vê e aquilo que vai capturando para depois conseguir que saia do papel. E eu tento explorar este dom, porque é aquilo que eu gosto de escrever e também de ler, quando leio também gosto de sentir. Por exemplo, a Laura Esquivel, é uma chilena que eu leio muito e tem um livro que eu adorei e que já li diversas vezes. Ela tem as receitas de uma tia e o livro é a volta disso, está relacionado com as receitas e eu consigo cheirar o alho, consigo estar a ler e a sentir o cheiro daquela cozinha e daqueles vapores, e é muito interessante, é muito bom. E é isso que eu gosto que o leitor sinta, aquilo que eu estou a sentir na altura em que estou a escrever. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Eu sou muito observadora, hoje nem tanto, uma pessoa tem outro tipo de vivências e começa a ver as coisas de forma diferente, mas as crianças têm muita tendência de querer levar tudo ao mesmo tempo, sobretudo quando gostam, e eu tinha medo de me esquecer, e entao escrevia para não me esquecer...Gosto mesmo de guardar tudo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">A sua paixão pela fotografia tem a ver com a sua necessidade de guardar tudo? <o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A fotografia surge porque eu tenho muita pena de não registar alguns momentos. Uma coisa é escrever outra coisa é ter uma imagem. Por exemplo, hoje fui almoçar ao Palácio de Cristal e como estamos numa época muito bonita de Outono em que as folhas são de todas as cores fiquei com muita pena de não ter levado a câmara, e principalmente porque é digital e depois brinco com ela, como toda a gente brinca com uma câmara digital. Fiquei mesmo com muita pena, mas vou pegar nela e<span style=""> </span>levá-la, porque há coisas que eu acho que não se deviam perder, há fotografias, imagens que falam por si e acho que não se deviam mesmo perder. Na fotografia gosto de captar os cantinhos e os recantinhos, gosto de tirar rostos e pormenores, pormenores que passam despercebidos a qualquer pessoa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">E em relação à pintura. O que procura transmitir quando pinta?<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style=""> </span>A pintura é mais para relaxar, é..Quando eu estou a pintar não penso em nada, quando estou a escrever penso em muita coisa. Quando estou a pintar estou num mundo completamente diferente, as sensações que tenho são completamente diferentes. Todas as exposições em que me pediram para entrar eu recusei, fiz uma exposição colectiva e nunca mais fiz nenhuma. Porque as pinturas que eu faço normalmente, faço para o sítio onde as quero colocar e neste momento não sou capaz de imaginar, sequer, tirar um quadro e mostrá-lo a A B ou C. Enquanto que o livro <span style=""> </span>tenho todo o orgulho em que as pessoas o leiam e apreciem, com o quadro não sinto o mesmo à vontade, porque é um momento de relaxamento que eu tenho. Pego numa tela e faço qualquer coisa,é diferente. Às vezes os quadros saem esquesitos, porque estou mais nervosa<span style=""> </span>ou chateada. É <span style=""> </span>mais isso, é uma forma de retratar uma emoção diferente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">Tem também um blogue, <a href="http://www.vendopassados.blogspot.com/">“Vendo passados”</a>, onde tem vários textos e sobretudo poemas. E lá define-se como uma informaníaca e também maníaca pelo prazer que a vida lhe proporciona...<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Maníaca pela vida, sim. Toda a gente que gosta de viver é. Sou maníaca pela vida, sedenta da vida, sou uma pessoa que gosta muito de viver, gosto muito do que faço, apesar de ter os aborrecimentos que toda a gente tem. Mas o prazer que a vida nos proporciona é único e devemos aproveitá-lo bem. E estamos sempre a tempo de aproveitar todos os bocadinos da vida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">Um dos poemas que está no blogue é “O Homem que tinha asas de Condor”, que aliás faz parte do seu livro. Ao longo da sua vida tem sido fácil soltar-se das amarras, voar sozinha e devolver as asas ao condor?<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span><span style=""> </span>Eu vivi muito revoltada, apesar de ser a mais nova e os meus pais já terem uma certa idade e serem mais permissivos, mas eu queria sempre mais, mais em termos de liberdade, achava que ninguém me iria impedir de fazer as coisas. E foi por isso que eu com vinte anos decidi comprar um apartamento e sair de casa. Comecei a trabalhar muito cedo, entrei na faculdade e ao mesmo tempo comecei a trabalhar. Hoje em dia os miúdos não sentem tanto isso, porque têm muito mais facilidade em viver as coisas e não têm vontade de sair de ao pé dos pais. Eu sentia muitas amarras porque me sentia muito limitada, e enquanto havia colegas minhas e até mesmo os meus irmãos muito mais acomodados à situação, eu sempre fui muito revoltada e muito diferente. Queria muito desatar essas amarras, porque eu não tinha nada a ver com aquilo e queria ser uma pessoa liberta de preconceitos, de tabus, como sou ainda hoje. Essas amarras siginificam a forma como me obrigavam a estar atada e não era só fisicamente, era a outros níveis. Eu queria voar sempre mais alto, mostrar que tinha capacidades, porque é engraçado, eu ponho-me a pensar como gostava que os meus dias fossem diferentes uns dos outros. Nós damos por ela a viver os dias muito iguais e isso é uma coisa que me dói e eu tento sempre que as coisas não sejam assim, tento sempre dar um gosto diferente ao dia, acordar com uma ideia nova ou para o livro ou para uma pintura. Porque <span style=""> </span>estou todo o dia ligada a um computador e estou a programar, a fazer análise ou outro trabalho que pode ser criativo em termos informáticos, mas que não é a minha criatividade pessoal. Fora do trabalho ter sempre uma ideia nova, é a tal forma que tenho de estar sempre a ver e a pensar a toda a hora. É cansativo, mas é bom. E é o que faz com que os meus dias sejam diferentes e <span style=""> </span>melhores.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">Como referiu, está a escrever um novo livro. Quer desvendá-lo um pouco?<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ainda é um bocadinho prematuro, porque eu tenho receio de estar a falar e depois as coisas darem outra volta. Mas o livro passa por uma homenagem a uma criança. Eu fui escuteira muitos anos e esse miúdo veio para o agrupamento com seis ou sete anos<span style=""> </span>e era uma criança autista. Naquela época ninguém estava muito receptiva a aceitar crianças diferentes. Nem sabiam sequer como lidar com isso, nem o que era um autista, era só mais um deficiente. Ele chegou, integrou-se muito bem no agrupamento, eu fui uma das monitoras dele. Agora tem 30 anos e continua lá, e a mãe acha que o miúdo evoluiu muito, de uma forma que ela não estava à espera, porque ele nunca andou em colégios especiais nem nada parecido e os escuteiros deram-lhe um grande convívio. Ele ainda hoje se lembra de pessoas que <span style=""> </span>já não vê há cinco, seis anos e sabe o nome delas. Conhece toda a gente do agrupamento e sente-se muito feliz lá e eu sempre gostei muito dele e sempre o entendi muito bem. Então o livro é mais ou menos uma homenagem a ele, aliás o título do livro é um nome próprio, que não é o dele, mas é o da criança que no livro é autista. Não estou a fazer muita pesquisa nem muita investigaçao, porque acho que isso acaba por ser muito maçudo e este, tal como o anterior, é também um livro de emoções. Tem, ainda, uma vertente policial porque vai acontecer qualquer coisa com essa criança e, portanto, o objectivo do livro não é chegar a li e descrever o que é o autismo, não. É mais mostar a capacidade de um autista perante a sociedade e mostrar que na realidade um autista pode ser uma pessoa com muito valor, muito válida. É um livro muito diferente que me está a dar bastante trabalho. Não lhe consigo pegar como peguei no primeiro, em que eram umas emoções atrás das outras. Este requer um tempo específico, que eu tenha um trabalho muito mais árduo em relação ao tempo, ao espaço. Mas está a dar-me muito gozo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não posso dizer que esteja numa fase já muito adiantada, não tenho a tal estrutura, o tal esqueleto que gostava de ter. O livro ainda vai levar muitas voltas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">Actualmente exerce uma activiade profissional e escreve. Um dia gostava de se tornar escritora a tempo inteiro?<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Sim, se me reformasse...E muitas vezes eu digo isso, aliás eu já tenho 26 anos de casa e queria reformar-me com saúde, claro, e com uma capacidade semelhante à que tenho agora para poder usar o tempo da forma que eu mais gosto, que é a escrever e a pintar, sem dúvida. Gostava não de me tornar uma escritora, porque eu não me considero uma, sou antes alguém que teve coragem para escrever e publicar um livro. Considero-me uma pessoa com coragem por ter mandado cá para fora uma coisa que escrevi para mim, sou mais uma aventureira. Mas se realmente tivesse tempo, investia na escrita.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">Num dos seus poemas diz.: “Estupidamente inteligente.../É assim que eu sou/Porque recupero tudo o que levas de mim.../Sempre que eu quero.” O que procura recuperar no tempo? <o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Por exemplo, agora tenho alturas em que me refugio na biblioteca Almeida Garret e outro dia pude trazer quatro livros. Peguei em quatro livros que achei que podia gostar e vim para a rua com um sorriso estranho porque achei que tinha outra vez cinco anos e que tinha ido à Gulbenkian, depois acabei por constatar que já os tinha lido. Mas tive o prazer “gratuito” de há quarenta anos atrás...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A partir de uma certa idade há um certo medo de não voltar a viver alguns momentos, daqueles que nos arrepiam, e o recuperar desses momentos e emoções vai fazer parte da minha vida sempre. Embora não possa recuperar sensações que tinha aos 18 anos quando via uma pessoa por quem estava apaixonada sentada numa esquina do café e ficava muito corada. São sensações únicas, que fazem o coração bater mais forte. Hoje, chegar a casa e escrever três páginas e depois ler, faz-me corar e bater o coração. Eu não sou muito presa ao passado, já passou...e o presente ja quase não é...mas foi do passado que trouxe os ensinamentos. Recuperar emoções é importante para me sentir viva.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style="">E, agora em relação ao futuro, quais são os seus projectos?<o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não me identifico muito com uma compilação de textos ou poemas, como me propôs um amigo escritor, que leu um dos meus poemas na apresentação da 2ºediçao do meu livro na Bertrand do Dolce Vita. Embora não esteja fora de questão. Só que é mais ou menos como eu voltar aos pedacinhosde mim e juntá-los num livro, e depois eu ía passar por aquela situaçao do ser demasiado íntimo e não querer publicar. Esses textos, essa poesia, escrevo-os mais para começar o meu dia, normalmente escrevo-os de manhã. Os livros são uma obra em que invisto, quero que tenham princípio meio e fim, que transmitam uma mensagem a muitas pessoas. É um objectivo diferente. Para já, acho que o meu futuro passa por um livro infantil, que tenha ilustrações minhas também. É um projecto muito arrojado, porque é muito difícil escrever um livro infantil. Os miúdos são os principais críticos e não dizem que gostam sem gostar, é um público mais exigente. Mas é um projecto que gostava de concretizar mais para a frente. Quando acabar este livro talvez volte a usar o “meu” menino autista.<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /><a href="http://temposemtampa.blogspot.com/2007/12/no-cabo-do-mundo-ao-sabor-da-pena-de.html">Parte I</a><br /><a href="http://temposemtampa.blogspot.com/2007/12/no-cabo-do-mundo-ao-sabor-da-pena-de_07.html">Parte II</a><br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b style=""><o:p> </o:p></b></p>Cristiana Afonsohttp://www.blogger.com/profile/02098497669808444496noreply@blogger.com0