Wednesday, September 26, 2007

Passam 5min das 2h e eu já estou atrasada...


Voltei a passar por ela.

A caminho da faculdade, retomo a rotina do 1º ano mas agora no 2º, revejo mais uma vez as caras que preenchem a Praça da República. Os comerciantes que guardam a fruta à porta das mercearias; aquela velhinha que gosta de passear por ali durante a manhã e que continua na mesma. Passam os autocarros: o 600 e o 304. Passam 5min das 2h e eu já estou atrasada.

Tempo para reparar nela. Reparei pela primeira vez...Já nem sei quando, mas sei que nunca mais deixei de a ver. Desde então, observo-a cada vez que passo. No início tinha o cabelo curto, loiro, a pele muito branca, os olhos azuis reveladores. Olhar de turista feliz e com a certeza do regresso a casa. Mas ela foi ficando, encostada a um dos lados da montra vazia junto ao café. Todas as manhãs frias de Inverno eu passava por ela enroscada em mantas, serena e só...Todas as primeiras tardes quentes de Verão eu passava por ela sentada na sombra, serena e só...

Vi-a todos os dias, olhei-a todos os dias, reparei nela todos os dias, tive vontade de lhe dizer “olá” todos os dias, mas a verdade é que nunca fui capaz de fazê-lo.

Não sei quem lhe dá comida, onde toma banho, onde conversa, onde ri e onde chora.

Hoje, que voltei a passar por ela, vi-a mais magra, com o cabelo mais comprido, as calças de ganga mais sujas, a pele menos branca, o olhar mais baço e menos azul. Encostada no mesmo canto, de costas para a mesma montra, a comer umas bolachas, a olhar vaziamente a Praça. A mesma que vê enquanto nós vemos novas cidades nas férias, enquanto apanhamos sol na praia, enquanto vamos ao café, enquanto chegamos a casa cansados e nos atiramos felizes para o sofá, enquanto procuramos o comando metido entre as almofadas e depois vemos um filme, enquanto tomamos um banho quente e chove lá fora, enquanto comemos chocolates e lemos uma revista, enquanto dormimos no seio dos lençóis brancos e dos cobertores quentinhos.

Está pura e simplesmente parada, não vive nem sente o que nós vivemos e sentimos. Existe ali, quase intemporalmente, sente apenas as variações da vida mexida dos outros, talvez repare em mim quando passo. Não sei. Talvez se recorde de um pai e de uma mãe, de um irmão, de um tio, de um amigo, das pessoas que eram a vida dela...Talvez guarde muitas memórias secretas (para mim) naquela mochila de pano com riscas de várias cores e que está quase a romper de cheia (não sei com que coisas...).

O tempo passa-lhe naquele canto, de dia e de noite. Eu já estou 10min atrasada...Vou indo.

Sunday, September 16, 2007

A lus de Nancy

Nancy Adelaide Vieira nasceu em 1975 na Guiné Bissau, mas passou grande parte da sua infância em Cabo Verde.

Hoje, depois de ter vindo para Portugal e de se ter licenciado em Sociologia, a cantora delicia-nos com a sua música.

Conta já com três trabalhos editados: Nós raça, Segred e Lus.