Tuesday, September 23, 2008

Sopro...

O Porto volta a reconstruir-se nos meus olhos, e depois da ausência das férias volta a surpreender-me. Nunca um lugar me tratou assim, nunca um lugar me foi trazendo tanto com tão pouco, ou tão simples...


E depois de uma busca de livros na Biblioteca Almeida Garret, na companhia da Mafalda e da Ina, e do passeio com conversa agradável naquele jardim do Palácio de Cristal, veio ao nosso encontro a Sara, velhinha de cerca de 80 anos...julgo eu.


É como se o mundo soprasse na minha direcção devagarinho. Porque nem a entrada no rosa e amarelo queimado da Rota dos Chás, nem o chá ou a tarte de chocolate e framboesa me tinham soltado o sorriso, como já tantas vezes o haviam feito. Porque há, quase sempre, nesta atmosfera, na sonoridade que a preenche e no cheiro que emana algo que me inebria e absorve, que me atira o olhar para a paz do vazio enquanto ao mesmo tempo me desperta intensamente os sentidos. Quem já lá esteve é bem capaz de me compreender, pelo menos em parte. E lembro-me da primeira vez...daquela noite de teatro (em que vi "Aquário") no museu do carro eléctrico do Porto, da chuva que me fez correr e quase cair na rua, que detestei que me molhasse mas que adorei ver molhar quando me sentei e senti ali...cheia da estória das personagens, ainda envolvida pelo estalar das palmas e de repente naquele calor, na luz trépida das velas, no perfume doce do meu romântico “Dim sum chá”. Depois dessa noite decidi apresentar o espaço a todos os que achei merecerem partilhá-lo comigo, faltam alguns é certo...não falta a minha vontade de os ver saboreá-lo comigo.


Mas naquele dia o coração tinha apertado tanto que reprimiu o que se faz, quase sempre, de mim ali...e foi preciso mais, foi preciso a Sara:


- Somos nós que construímos a nossa felicidade meninas...


E a Sara só queria saber se havia uma exposição nova (e gratuita) no Pavilhão Rosa Mota, uma daquelas que sabe bem porque nos obriga a reparar demasiado, com medo de perder um pedaço de vida; uma daquelas que nos alimenta de beleza, arte, conhecimento; uma das que vale a pena, não por ser gratuita (embora isso ajude) mas porque nos movimenta. Queria tão pouco a Sara...e deu-nos tanto. Deu-me o Sol que brilhava nesse dia, deu-me as folhas secas e torradas de Outono a aquecerem a terra, deu-me o transparente da água do “lago”, os patos e o seu deslizar suave, os livros que requisitei e o desejo de perscrutá-los e de me embrenhar neles...e deu-me aquela minha vontade eterna de sonhar. Deu-me as mãos e o carinho e adivinhou o tanto que eu precisava deles.


Se soubesse como ajudou a construir a minha felicidade...Pedi ao mundo que soprasse na direcção dela...devagarinho.