Monday, May 21, 2007

Sunday, May 20, 2007

Cheira a baunilha e alperce...

Fui lavar as mãos. De repente senti aquele cheiro e lembrei-me da praia, de quando era pequenina, construía castelos na areia e usava aqueles fatos de banho coloridos. Sorri, estava a fazer uma viagem na memória dos cheiros, estava embrenhada naquele perfume a alperce e baunilha, rodeada pelos amigos da colónia de férias.

Isto já me aconteceu mais vezes, com outros cheiros e outras memórias. É estranho, mas é tão bom. E delicio-me sempre quando me acontece.

Primeiro aquele cheiro familiar, que começa a percorrer-me devagarinho até me fazer recordar daquele dia, daquela ocasião. Depois as imagens, os sons, as sensações. Porque há momentos que nos ficam através do cheiro.

Eu associo alperce e baunilha à praia, porque era esse o champô que usava para lavar os cabelos sempre que regressava de um banho de mar. Hoje, esse é o meu cheiro de praia.

Gosto de viajar assim, de sentir que possuo este perfume, que ele ficou para sempre em mim, que o reconheço, que é meu.



Friday, May 18, 2007

"Queima ao Sol no Cortejo"

“E o sol, lá do céu risonho vem beijar…e as capas ondulantes…no peito a vibrar o coração dos estudantes…” Ecoam hinos nas ruas do Porto, as vozes e as cores dão vida ao cortejo que se compõe aos poucos e que desespera por avançar.

Terça-feira, 15h30min, o cortejo inicia o seu percurso. Lado a lado todas as faculdades gritam e festejam. Uns porque participam neste “desfile” pela primeira vez, e anseiam passar a tribuna para deixar de ser caloiros; outros porque chegam ao fim de uma das etapas mais importantes das suas vidas; todos porque são estudantes da Academia do Porto.

Este é um dos dias mais marcantes da semana académica, os estudantes saem à rua e centenas de pessoas “invadem” a baixa do Porto para os ver passar.

À frente os cartolados, seguidos pelos restantes doutores e pelos caloiros, cada um grita com orgulho o nome do seu curso ou faculdade.

Os fitados preenchem os carros alegóricos e comandam as vozes, os “gritos de guerra”, a rivalidade que “em demasia, é muito errada, os estudantes da UP deviam esquecer as guerrilhas em muitas ocasiões e devia haver mais humildade por parte de toda a gente”, diz André Montenegro, caloiro do curso de engenharia informática na FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto). E brinca, “por exemplo, lá porque Engenharia é a melhor casa da Academia, não vamos andar a espalhar isso.”

Nem o calor, nem o cansaço, afastam os jovens universitários. As bengalas continuam a erguer-se, a passar de mão em mão e a dar as três pancadinhas da sorte. “Dá muita saudade e nostalgia sentir que esta etapa está a acabar”, diz Jorge Cardoso, finalista do curso de Ciências Farmacêuticas da UP. E para quem “o ano de caloiro foi o melhor, não me importava de repeti-lo porque conheci pessoas novas, uma realidade diferente, extremamente enriquecedora”.

Este é o sentimento partilhado por todos os finalistas.


A tradição do cortejo inicia-se em 1978, quando a Queima das Fitas ressurge no Porto com a designação de Mini-Queima. Esta consistia num desfile pelas ruas da cidade, tal como acontece hoje. No entanto, na altura gerou alguma polémica e contestação em vários quadrantes da sociedade, que a consideraram uma manifestação reaccionária.

A Queima tem sofrido uma progressiva mutação e deixou de ser restrita aos estudantes, para passar a ser uma das maiores festas da cidade do Porto e a maior festa académica do país.

São 17h00 e medicina acaba de passar a tribuna, são os primeiros. A emoção e a alegria são visíveis, os caloiros deixam de o ser. “É uma sensação fantástica, o culminar de um ano muito especial!”, afirma Paulo Pancrácio, estudante da FMUP (Faculdade de Medicina da UP), que acrescenta, “passar a tribuna não é o mais importante, é apenas mais uma das várias actividades que fazemos. O somatório de todas elas é que é realmente importante!”

Seguem-se as Faculdades de Ciências, Engenharia, Letras, Farmácia…O cortejo é longo, é necessário aquecer a voz e manter o fôlego. Os vendedores de cerveja e água fresca aproveitam a oportunidade de negócio. “Olha a cerveja fresquinha! Não quer menina?” A “tia” Maria Antónia já conhece bem o ambiente do cortejo, sabe que a maioria dos estudantes não recusa a sua oferta. O dia é de excessos, o álcool é para muitos “um elemento essencial desta festa.”



Às 2h00 da manhã ouvem-se os últimos estudantes. A tribuna vê passar os alunos da Universidade Fernando Pessoa. “ Doem-me os joelhos, mas estou feliz!”, diz Cátia Bernardes, que frequenta o curso de Terapia da Fala, e que sente orgulho “por ter aguentado o caminho até ao fim.”

Sobram os papéis coloridos, os Aliados adormecem enquanto lhes varrem os vestígios, os estudantes continuam os festejos, agora no queimódromo.

Sonha-se com o próximo cortejo e rasga-se um sorriso.

Monday, May 7, 2007

Avenida João da Cruz: Requalificação ou Descaracterização?

A Avenida João da Cruz, em Bragança, vai ser remodelada. Mas habitantes não concordam com o projecto proposto pela autarquia.

A Avenida tem vindo a perder muita da sua vitalidade com a deslocação do comércio para a “parte baixa” da cidade e das “Festas da Cidade” para o Parque Eixo Atlântico. A maioria julga a revitalização da zona necessária, mas considera as soluções apresentadas pela Câmara Municipal inadequadas.

De acordo com o plano, o separador central será encolhido e o jardim e zona pedonal serão eliminados. Por outro lado, o passeio do lado direito, junto aos cafés e aos comércios, será alargado dos actuais quatro metros para doze metros de largura. O objectivo é aumentar a zona de esplanadas e facilitar a circulação dos peões.

Com um orçamento de 1 milhão e 640 mil euros, o projecto pretende salvaguardar a mobilidade através de duas rotundas.

Um dos principais problemas levantados é a eventual descaracterização que a intervenção pode provocar na cidade. Depois das obras na Avenida do Sabor, agora Avenida Cidade de Zamora, e que ainda estão em fase de conclusão, os brigantinos temem a perda de uma das artérias mais emblemáticas de Bragança.

“A obra no final vai ficar com boas características e com bons materiais, o que permitirá eliminar esta imagem negativa inicial”, afirma o Presidente da Câmara Municipal, Eng. António Jorge Nunes, relativamente aos atrasos nos trabalhos na Avenida do Sabor, que admite estarem a perturbar bastante os residentes e utentes da via e serem uma das causas da desconfiança dos brigantinos face à remodelação da “João da Cruz.”

O plano de intervenção tem sido muito contestado pela oposição, nomeadamente pelo PS, e por alguns arquitectos da região, como João Ortega para quem “o plano não faz sentido, uma vez que não interpreta o lugar onde quer intervir e privilegia os carros em detrimento das pessoas.”

Já segundo o Presidente da Câmara, “a solução escolhida respeita a identidade da Avenida, propondo simultaneamente uma requalificação que beneficia o uso pedonal, sem que as soluções de circulação automóvel e de estacionamento sejam prejudicadas.”

A Avenida João da Cruz começou a ser construída no final da década de 20 e é, hoje, um espaço privilegiado da cidade. Os trabalhos de pavimentação foram efectuados entre 1942 e 1946 e, finalmente, o ajardinamento e a iluminação foram concretizados em 1956.

A Comissão Politica Concelhia do PS defende a realização de um referendo sobre o assunto. No entanto, esta não tem sido uma possibilidade bem recebida pelo Eng. Jorge Nunes. “Esta matéria não está pois, nos termos da lei, sujeita a referendo”, esclarece o autarca e acrescenta, “pretendemos fazer uma boa intervenção, com a aprovação das pessoas, que serão novamente chamadas à discussão. O projecto será exposto ao público, para que as pessoas se mantenham informadas.”

“A escolha da ideia de requalificação da Av. João da Cruz resultou de um concurso público de ideias, no qual todos os técnicos qualificados tiveram a oportunidade de formalmente apresentar as suas soluções. De Bragança, nenhum técnico ou gabinete de engenharia e arquitectura apresentou proposta”, lamentou o Presidente. E salientou, ainda, os benefícios que esta obra de requalificação e modernização vai trazer à cidade.

Todos concordam que o mais importante é dinamizar o local. Por isso, o projecto está de novo em estudo, a discussão faz-se nos bancos da Avenida, os brigantinos querem uma cidade moderna mas com identidade histórica.