Wednesday, January 30, 2008

"Cai bem..."

"Às vezes no silêncio da noite..."

Sabes quando a noite traz o silêncio? Mesmo quando os carros continuam a passar velozes lá fora, mesmo quando tens a televisão ligada num canal qualquer só para que o som te faça companhia, mesmo quando continuas a ouvir o fechar das gavetas dos armários do vizinho do andar de baixo, mesmo quando ainda sentes a música do vizinho do prédio da frente e o ladrar do cão do vizinho de cima. Enfim, quando, se pensares bem, a vida continua agitada em cada pedaço de casa e de rua, mas sentes que a noite trouxe o silêncio. E começas a ouvir o tic tac irritante do relógio que tens numa das prateleiras da estante da sala, e é exactamente esse tic tac que te dá a sensação de teres mergulhado no escuro, no vazio e no silêncio da noite.

Nunca ouço este tic tac durante o dia e acho que é mesmo por isso que o ruído dele cai como a batida forte de uma porta, porque já não é dia.

Depois de arrumar as almofadas do sofá, que no meu caso se pintam entre o azul e o verde, o laranja e o cor de rosa, apago a televisão, rodo o interruptor que me deixa às escuras e acendo a luz da casa de banho. Gosto de me lembrar que fiz exactamente o mesmo na noite anterior, que com o tempo fiz de mim os meus gestos e os repito sem pensar, porque são definitivamente meus. Vou à casa de banho, retomando, visto o pijama quente de inverno, lavo os dentes e passo água na cara. Depois olho-me ao espelho, reconheço-me no espaço e no tempo de mais um dia, continuo a menina que gosto de ser e ainda tenho os meus 19 anos.

Gosto de trancar a porta, de fazer barulho ao girar a chave, de me sentir segura quando prendo o cadeado e de no instante a seguir ir até à cozinha, abrir o armário e pegar num copo onde verto o leite do pacote que tirei do frigorífico. Depois ( e com este "depois" lembrei-me dos textos que escrevia quando era pequenita, que contavam estórias cheias de e depois...e a professora dizia..”morreram as vacas e ficaram os bois”) vou buscar as bolachas, chipmix, aquelas do pacote azul, com chocolate qb. Delicioso, reconfortante.

Há tempo para pensar, para fervilhar em ideias, para me imaginar a sorrir quando concretizar os meus sonhos. Há tempo para me sentir feliz, para me sentir triste, sozinha e acompanhada. Há tempo para sentir saudades da cozinha da minha casa de sempre, em Bragança, da carpete colorida e das torradas do meu pai. E há tempo para pensar neles, e no carinho que me dão todos os dias, neles que me preenchem a alma e o coração. Há tempo para pensar em ti.

Segue-se o “ajeitar dos lençóis”, o virar consecutivo na cama até encontrar a posição ideal, quentinha, até respirar devagarinho. Gosto do caracol estampado na almofada da minha cama.