Tuesday, August 5, 2008

Soube bem ler...:)



"A Dama Misteriosa de Florença",

de Nora Roberts

À velocidade do metro...

O metro passava devagar em cima da ponte D.Luís. 22h30. O Douro suave lá em baixo e o olhar sobre ele, encandeado pelas luzes. Às vezes faz-se um percurso cem mil vezes e não se percebe que do dia para a noite a paisagem que o desenha muda completamente. E a mudança traz consigo o pormenor, aquele que nos espanta, emociona ou desilude.

Do lado de Gaia havia luzes roxas rua fora, havia cavalos à roda com crianças felizes no girar do carrossel. Do lado do Porto, as mesas exteriores dos restaurantes da ribeira apaixonadas, a cada olhar uma nova descoberta. E numa daquelas casas uma família peculiar. Da janela viam a Serra do Pilar, enquanto isso entornavam vinho nos copos. Vai-se construindo a estória. Podemos imaginar...O homem, com cerca de 50 anos, mas algumas rugas já demasiado vincadas no rosto, tinha mãos grossas e ar de pescador, sorriso aberto e lento, olhos quietos e enormes. Pode ser António, ter três filhos, viver com a mãe porque é viúvo, ter um carro vermelho e gostar de passear ao Domingo.

E da noite para o dia, do vinho para a água; a visão muda e transparece como o rio. Enquanto o metro passa, os turistas caminham de máquinas fotográficas em punho. É bonito. Outros navegam por baixo da ponte sentados nas cadeiras dos barcos, naquelas que parecem abanar com a ondulação, já experimentaste? E estão felizes, daqui não se vêem os rostos, mas é isto que me parece. Depois as motos de água, rápidas, agitadas. Ai...apetece-me andar numa delas.

E volto a olhar, o metro avança. Naquela noite, que descrevi antes, despertei ao chegar à estação da trindade. A voz (“a próxima paragem, trindade, tem ligação com autocarros...The next top, trindade...”) da rapariga do metro que já todos, num momento ou outro, tentámos imaginar. Precisamos tantas vezes de associar imagens aos sons e gostamos de vaguear enquanto o tempo passa entre a estação de partida e a estação de chegada.

Uma vez, sentada na estação à espera de uma amiga, a Sofia, decidi reparar em tudo à minha volta. Estava calor lá fora, e cá dentro sentados no mesmo banco frio que eu, dois velhos...ao fresco. A conversa fazia-lhes passar a tarde mais depressa, talvez ali se estivesse melhor do que em casa. E vi um menino numa cadeira de rodas de fazer inveja a qualquer um dos miúdos que pode andar...porque era colorida e tinha desenhos fantásticos nas rodas, que andavam muito rápido enquanto o menino sorria.

E vi mais, muito mais...Mas nada que agora interesse muito contar, até porque entretanto a minha amiga chegou e o meu lugar no banco ficou vazio.