Friday, May 18, 2007

"Queima ao Sol no Cortejo"

“E o sol, lá do céu risonho vem beijar…e as capas ondulantes…no peito a vibrar o coração dos estudantes…” Ecoam hinos nas ruas do Porto, as vozes e as cores dão vida ao cortejo que se compõe aos poucos e que desespera por avançar.

Terça-feira, 15h30min, o cortejo inicia o seu percurso. Lado a lado todas as faculdades gritam e festejam. Uns porque participam neste “desfile” pela primeira vez, e anseiam passar a tribuna para deixar de ser caloiros; outros porque chegam ao fim de uma das etapas mais importantes das suas vidas; todos porque são estudantes da Academia do Porto.

Este é um dos dias mais marcantes da semana académica, os estudantes saem à rua e centenas de pessoas “invadem” a baixa do Porto para os ver passar.

À frente os cartolados, seguidos pelos restantes doutores e pelos caloiros, cada um grita com orgulho o nome do seu curso ou faculdade.

Os fitados preenchem os carros alegóricos e comandam as vozes, os “gritos de guerra”, a rivalidade que “em demasia, é muito errada, os estudantes da UP deviam esquecer as guerrilhas em muitas ocasiões e devia haver mais humildade por parte de toda a gente”, diz André Montenegro, caloiro do curso de engenharia informática na FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto). E brinca, “por exemplo, lá porque Engenharia é a melhor casa da Academia, não vamos andar a espalhar isso.”

Nem o calor, nem o cansaço, afastam os jovens universitários. As bengalas continuam a erguer-se, a passar de mão em mão e a dar as três pancadinhas da sorte. “Dá muita saudade e nostalgia sentir que esta etapa está a acabar”, diz Jorge Cardoso, finalista do curso de Ciências Farmacêuticas da UP. E para quem “o ano de caloiro foi o melhor, não me importava de repeti-lo porque conheci pessoas novas, uma realidade diferente, extremamente enriquecedora”.

Este é o sentimento partilhado por todos os finalistas.


A tradição do cortejo inicia-se em 1978, quando a Queima das Fitas ressurge no Porto com a designação de Mini-Queima. Esta consistia num desfile pelas ruas da cidade, tal como acontece hoje. No entanto, na altura gerou alguma polémica e contestação em vários quadrantes da sociedade, que a consideraram uma manifestação reaccionária.

A Queima tem sofrido uma progressiva mutação e deixou de ser restrita aos estudantes, para passar a ser uma das maiores festas da cidade do Porto e a maior festa académica do país.

São 17h00 e medicina acaba de passar a tribuna, são os primeiros. A emoção e a alegria são visíveis, os caloiros deixam de o ser. “É uma sensação fantástica, o culminar de um ano muito especial!”, afirma Paulo Pancrácio, estudante da FMUP (Faculdade de Medicina da UP), que acrescenta, “passar a tribuna não é o mais importante, é apenas mais uma das várias actividades que fazemos. O somatório de todas elas é que é realmente importante!”

Seguem-se as Faculdades de Ciências, Engenharia, Letras, Farmácia…O cortejo é longo, é necessário aquecer a voz e manter o fôlego. Os vendedores de cerveja e água fresca aproveitam a oportunidade de negócio. “Olha a cerveja fresquinha! Não quer menina?” A “tia” Maria Antónia já conhece bem o ambiente do cortejo, sabe que a maioria dos estudantes não recusa a sua oferta. O dia é de excessos, o álcool é para muitos “um elemento essencial desta festa.”



Às 2h00 da manhã ouvem-se os últimos estudantes. A tribuna vê passar os alunos da Universidade Fernando Pessoa. “ Doem-me os joelhos, mas estou feliz!”, diz Cátia Bernardes, que frequenta o curso de Terapia da Fala, e que sente orgulho “por ter aguentado o caminho até ao fim.”

Sobram os papéis coloridos, os Aliados adormecem enquanto lhes varrem os vestígios, os estudantes continuam os festejos, agora no queimódromo.

Sonha-se com o próximo cortejo e rasga-se um sorriso.

1 comment:

Cátia Monteiro said...

Um momento para recordar sempre e para sempre! Adoro a vida universitária, não pela boémia, mas pelas pessoas. Tu és uma delas.