Saí de casa. Soube bem levar com o calor dourado do Sol e sentir-me quente. Desta vez não reparei na paisagem à minha volta. O olhar quis guardar-se para o anel do fim de tarde...
Praça dos leões a cirandar de capas negras, embalada pelo eléctrico, cinzenta e matizada por mim e pelo Pedro na nossa mesa e na nossa conversa. Por nós e por mais umas quantas pessoas...
Passados alguns instantes, longos talvez, não sei porque me perdi nas horas com a conversa, veio um rapaz: sujo, roto e descosido, despenteado, de olhos pedintes e andar inferior, de voz turva...E foi então, sem indiferença à mão estendida, que lhe dei a moeda...dele. Ele ofereceu-me o anel. Foram os meus olhos que ficaram pedintes de mais gestos como aquele, fui eu que fiquei inferior, tal como o resto da gente, perante o anel torto, velho, largo, gasto, mas dele...que me estendeu a mão e a voz de súplica e que, no meio do seu nada, me deu muito mais do que eu a ele.
Guardei-o na bolsa interior da minha carteira...olhar para ele permitiu-me recordar com mais força o momento...
No outro dia ofereci-o, junto com a história que o fez chegar a mim, a uma amiga a quem precisei de aumentar o sorriso...E o anel ganhou novos sentidos, continua torto, velho, largo e gasto, mas guarda nele mais carinho e mais saudade do mendigo que o alojou no dedo...
Onde quer que estejas, meu senhor do anel, obrigada. Porque do teu andar inferior foste capaz de me fazer acreditar...em ti, em mim e no anel que representa o laço superior que há entre nós no meio do mundo...
3 comments:
O anel seguiu outro caminho, mas o seu sentido continuará o mesmo :)
E a amiga de certeza k agradece... foi importante*
Oh Cris... :')
:')
Post a Comment