Sunday, June 1, 2008

“ Velhinha de cabelos compridos...”

Há dias em que apetece fazer tudo. Em que acordamos com a certeza de que vamos ser capazes, cheios de força, de vontade de vencer, de conseguir! Mas é nesses dias que a vontade se esvai à mesma velocidade com que apareceu. E mesmo depois de ter saído de casa e ser trespassado pelos primeiros raios de sol depois de dias de chuva, mesmo depois de ter partilhado sorrisos e comido batatas fritas com ketchup, de ter conversado com pessoas simples e simpáticas, cai-se na inércia...A inércia que transponho para este texto enquanto o escrevo e ao mesmo tempo penso no muito que tenho para fazer.

E de repente lembro-me do banco do lado esquerdo do autocarro e do velhinho que ia sentado à minha frente. “Sabia que vai envelhecer cedo menina?”

Na verdade eu desconhecia e sorri para disfarçar um ar incrédulo...E ele disse-me que era verdade, que o cabelo demasiado comprido favorecia o envelhecimento precoce, e que, aliás, isso estava escrito e explicado num livro de um autor qualquer, vendido numa livraria do Porto. Não fixei os nomes...

O segredo dele para aos 80 anos continuar ágil, saudável e feliz eram duas gotas de água oxigenada por dia. Bebe-as há muito tempo e tem sangue de rapaz novo, disse-lhe o médico!

Fui sorrindo, surpresa, mas deliciada com a simplicidade, simpatia e loucura (a minha) do momento. Senti todos os olhares do autocarro voltados para mim e para o meu cabelo, para o velho e para a sabedoria estranha dos seus 80 anos.

Saí do autocarro e decidi não cortar o cabelo. Gosto dele assim, e por agora quero deixá-lo comprido, até quando for velha...

À media que escrevo ganho nova vontade, vou guardá-la dentro de uma esfera de âmbar...não quero perdê-la. Faz-me falta, tal como me faz falta a vontade do meu pai e da minha mãe quando me seguram no colo, me abraçam e me chamam “minha pequenina.” Faz-me falta... ouvir o meu mano chamar-me kika e implorar-me por mais um jogo de xadrez; faz-me falta o olhar quente da minha avó a oferecer-me o melhor pão com queijo e marmelada, faz-me falta o cheiro da minha casa e o sol da minha rua.

Por mais velha de cabelos compridos que eu seja, vai-me sempre fazer falta...

Já agora, o velho de 80 anos sorriu para mim, criou um laço instantâneo comigo e eu senti-me feliz. São os meus pormenores, aqueles que guardo com carinho e que gosto de contar, porque é bom partilhar bocadinhos de felicidade.

2 comments:

Quita said...

Pequena...

Bela partilha! Mas encontra logo o teu ânimo, pq tu sem sorrisos a tempo inteiro não és tu!

gmdt! Beijinhos docinhos!

Rosa Alice said...

Já tinha saudades dos teus devaneios... :)
Sorri sempre...