Thursday, June 4, 2009

"Simulation age" - Simulamos ou não?

Numa época cada vez mais vivida e experienciada no e através do ciberespaço, Paulo Frias*1 diz que “o indivíduo plural, ambíguo e ubíquo ocupa, em cada momento da sua vivência online, um espaço mentalmente elaborado e concordante com a(s) identidade(s) assumida(s).”
Somos, então, confrontados com o “conceito” ou ideia de múltiplas identidades e consequentemente com aquilo que Turkle designa de “life on the screen” (Turkle 1995). Para a autora, a possibilidade de nos dividirmos e agirmos em campos distintos com personalidades distintas foi potenciada pelos computadores e, mais especificamente, pela Internet (ciberespaço, cibercultura). Turkle refere-se a “windows”: "the development of windows for computer interfaces was a technical innovation motivated by the desire to get people working more efficiently by cycling through different applications. But in the daily practice of many computer users, windows have become a powerful metaphor for thinking about the self as a multiple, distributed system." (Turkle 1995:19)

Será que vivemos numa era de simulação, em que cada uma das “ferramentas” disponíveis online e que nos transporta para novas “janelas” não é mais do que um simulador? Como afirma Frias, “a emergência de uma nova cultura contemporânea de simulação revela-se na tentativa de transcender os limites da existência criando simulações que parecem reais, e tornando a realidade cada vez mais parecida com uma simulação.”

Ou seremos, nós próprios, navegadores do ciberespaço, os simuladores? Talvez a “janela virtual” seja apenas mais um campo de simulação, ou uma forma de “colocar em acção” outras linhas da nossa personalidade. A verdade, é que mesmo no mundo dito “real”, o Ser Humano tende a adaptar-se às exigências do meio e a moldar a personalidade às circunstâncias em que vive em determinado momento. Somos, portanto, plurais e não unitários. Paulo Frias considera, ainda, que “a fruição de espaços multifacetados e recicláveis em cada instante, potenciam a formação de identidades plurais,compreensivas, que aceitam as diferenças e a diversidade. Mas, acima de tudo, que pretendem gozar a faculdade de serem aquilo que querem e que eventualmente não podem ser no "mundo real". Esse mesmo mundo que, progressivamente, se transforma em apenas mais uma instância de simulação.”
Assim, como diz Turkle, todos os nossos “eus” merecem ser explorados. Hoje, esta “estética da simulação” está impreterivelmente infiltrada no “dia-a-dia” de todos aqueles que se movem no espaço virtual. Porque da gestão do dia faz parte a gestão dos movimentos de cada um no “ciberespaço”, e a própria acção dos indivíduos na janela do “mundo real” está intrinsecamente ligada à sua acção no “mundo virtual”. Talvez a tendência seja a de não separar os “dois mundos”, já que os “utilizadores” são os mesmos. E muitas vezes, aquilo que alguém constrói e difunde no ciberespaço, seja através de blogues, sites, chats, ou outros, tem como objectivo alcançar as consciências do “mundo real”, daí a constante passagem de conteúdos de um meio para o outro; e despoletar reacções que gerem satisfação pessoal a quem constrói e contribuam para a evolução de mentes cada vez mais multifacetadas, espelho de um “eu” com múltiplas personalidades.

*1 – Frias, P., “Simulação & Simuladores uma nova estética online”, in http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/6_paulo_frias_prisma.pdf, consulta em 7 de Dezembro de 2008.

1 comment:

Quita said...

Temos muitos "eus" é verdade. Eu exploro os meus em cena, a doar-me a um personagem, a ser o que eu jamais imaginaria ser, a ousar fazer aquilo que 'in real life' jamais ousaria fazer... é uma experiência única experimentar o outro. Surpreendo-me sempre com os pensamentos que me vêem a mente, com os sentimentos que me vêem ao coração, com aquilo que seria/sou capaz.
Acho que para aqueles que nunca ousaram mais do que são, a “janela virtual” é um campo de simulação, ou uma forma de “colocar em acção” linhas da personalidade ocultadas pelas formatações da vida, da sociedade e da própria família.
Nós somos o que pensamos. E ainda não chegou o dia que o ser humano pode dizer o que de verdade pensa. As pessoas mentem, mas na internet... bem, tudo é possível.

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