Friday, December 7, 2007

O Sexo e a Cidade

À noite, nas ruas de Bragança, não se vêem prostitutas velhas, exageradamente maquilhadas, com cabelos brancos mal pintados e botas de cano alto vermelhas. Mas, dizem as más línguas que é em Bragança que elas moram.

Desde o tão badalado caso “Mães de Bragança”, trazido a público pela revista Time, a cidade nunca mais se livrou da fama, mas continua sem o proveito.

Se existem casas de alterne ilegais? Sim, existem. Tal como existem na grande maioria das cidades do país. Esta é a realidade em que vivemos e os homens do interior norte são iguais aos homens do litoral sul.

As mães de Bragança foram corajosas? Não. Porque ter coragem não é culpabilizar terceiros é assumir responsabilidades. Que culpa têm as brasileiras, muitas vezes enganadas e maltratadas, cheias de vontade de mandar os homens das mães dar uma curva, que eles saiam de casa de noite com a desculpa da festa de anos do amigo ou então sem qualquer desculpa, para irem satisfazer as suas necessidades e fantasias eróticas. Para eles é um mal, ou melhor, um bem necessário.

As mães defendem a família, os filhos, a felicidade imaculada do lar. As mães esquecem-se de que são mulheres, que não têm de se subjugar ao marido, que ser feliz não é sinónimo de sagrada família e que afinal nem só de pão vive o homem. Falta-lhes a coragem e o respeito próprio.

A Time achou ter neste triste episódio um grande furo jornalístico e chamou duas prostitutas até às muralhas do castelo, porque fotos de “monumentos” ficam sempre bem...

Depois do caso “Mães de Bragança”, quis acreditar que pelo menos alguns traficantes de mulheres fossem julgados e punidos. Mas, na realidade, os que não fugiram para o Brasil continuam a passear-se por lá e a fazer “render o peixe”.

Os comerciantes também já se manifestaram. Dizem eles que há menos brasileiras, e isso é mau. As cabeleireiras já não têm quem pentear e os taxistas, que já nem abriam a porta de dia, deixaram também de a abrir à noite.

Certo é que nem antes nem depois se viram mulheres da vida nas ruas de Bragança, a andar de um lado para o outro, a seguir à frente de um homem gordo, com o cabelo desgrenhado e barba por fazer, acabado de encher a barriguinha em casa e com vontade de chegar e vencer. Em Bragança eles têm de entrar numa daquelas casas por onde se passa e se vira a cara, têm de se sentar num sofá de veludo vermelho (ou numa cadeira de pau velho) e observá-las recostados; têm de beber cerveja e ganhar força para subir as escadas do andar de cima e caber na porta do quarto.

Em Bragança, há prostituição tal como no Porto, em Lisboa, em Faro ou em Viseu. E acalmem-se os mais susceptíveis e que eventualmente não moram numa destas cidades, porque nas outras também há. O que não há, pelo menos que se tenha visto, são umas mães como aquelas. Mas isso, já se agradece.

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